Mente crônica
"as letras da Academia Brasileira perdem evidência em meio à penumbra."
22 de junho de 2015
Por Rivo Simões
É noite. Depois de uma viagem à terra da garoa, a temperatura amena que trazem os dias juninos faz meu corpo reconhecer que já estou em solo carioca. No Aeroporto Santos Dummont pego a condução rumo a Copacabana e me acomodo na poltrona de número quatro, do lado direito. Para me distrair, descortino a janela e lanço os olhos na paragem. No trajeto, o motorista segue o destino traçado: corte pelo Centro em direção à Praia do Flamengo, caindo na Avenida Atlântica.
Ainda no Centro, passo pela Avenida Presidente Wilson onde vejo o Petit Trianon: presente do governo francês, construído no século XIX e de arquitetura palladiana – impressiona pela simetria greco-romana; as janelas da fachada, fechadas e impecavelmente polidas a mão, espelham e espalham o brilho dos holofotes dispostos na sua parte inferior; os canhões de luz que miram o tetrástilo neoclássico frontal realçam a superfície côncava das caneluras dos fustes; o capitel – ornado pelas folhagens minuciosas de acanto – traduz em acalanto a leveza da jovem virgem de Corinto; todavia, no friso do entablamento sustentado pelas três arquitraves – que entrave – as letras da Academia Brasileira perdem evidência em meio à penumbra.
Rivo Simões
É advogado graduado em direito pelo
Centro Universitário do Maranhão.

Foto: Ruy Barbosa Pinto/reprodução
Letra morta